domingo, 17 de fevereiro de 2008

Alberto Machado, novo presidente da JSD/Porto, quer incutir valores na política

“Esperava mais de Menezes”

Alberto Machado, recém-eleito presidente da concelhia da JSD, quer incutir valores na política e os jovens motivados para as eleições de 2009. Apoiante de Rio, Alberto Machado diz, em entrevista ao JANEIRO, que esperava mais de Menezes no PSD nacional.
António Larguesa

Ganhou as eleições com uma grande margem de diferença. O que fez tanta gente votar em si?
No passado houve uma quase inexistência de JSD no Porto. As pessoas estavam cansadas que a estrutura não funcionasse e decidiram apostar numa ruptura, quiseram uma mudança clara na forma de fazer política, com valores. Durante os dois últimos anos a JSD não existiu em termos práticos, não houve iniciativas, posições públicas, contacto com os militantes de base. Houve uma série de trapalhadas, um desligar completo dos militantes de base, mesmo dos próprios núcleos, e não é assim que se faz política.
Acha então que não se fez política nos últimos dois anos?
Não, a prova é que a divisão entre esses dois blocos deixou de existir, neste momento a proporção está em 70-30. O bloco que estava na oposição está bastante mais sedimentado e com pessoas que, entretanto, passaram para o lado de cá. Isso é reflexo do descrédito que a forma de fazer política nos últimos dois anos teve, as pessoas olharam para o núcleo de Paranhos e do Litoral [os dois que estavam na oposição] e viram que as coisas do lado de cá resultavam e do lado de lá não.
Como se chega aos jovens?
Chegar àqueles que não estão politizados é complicado porque ao longo dos últimos anos houve um afastar da política, muito protagonizada por um centralizar de decisões em meia dúzia de pessoas, e os jovens não foram ouvidos. Os políticos, por sua vez, são tidos como pessoas que são corrompíveis, que não fazem nada, têm uma má imagem à qual os jovens não se querem associar. Para além disso, os jovens actualmente têm outro tipo de preocupações, que não sociais. Vamos fazê-los ver que as políticas de agora são as mesmas que no futuro nos vão atingir directamente.
Como vão actuar na área da Educação, já falaram com a FAP?
Vamos falar com a FAP e com todas as estruturas estudantis que existem na cidade porque achamos que elas nos podem dar alguma coisa e queremos aprender com elas. Mas não nos devemos imiscuir nas organizações de estudantes nem levar os partidos políticos para dentro delas.
Que outras preocupações têm?
O que aconteceu com a “Porta 65” [projecto de apoio ao arrendamento jovem] é uma desgraça. Os jovens vão deixar de ter arrendamento porque as condições que o governo colocou são de tal forma difíceis de conseguir que a esmagadora maioria não vai tê-lo. É uma ratoeira para os jovens, que tinham estruturado as suas poupanças de uma determinada forma e agora estão aflitos. Muitos vão ter que voltar a viver com os pais, é uma situação dramática.
É mais apetecível estar na JSD quando se aproximam as eleições e se distribuem os chamados“tachos”?
Quando há eleições há sempre maior vontade em participar, mas isso tem a ver com a dinâmica que se cria na campanha e por haver um objectivo. O que quero fazer é formar a minha comissão política, formar os autarcas já eleitos e os militantes de base para que todos eles estejam em condições para virem a assumir posições de destaque. Estou na Junta [de Paranhos] há seis anos, quando para cá entrei não sabia nada de política e acumulei um capital que me permite dar o exemplo e mostrar como se faz política.
Não há militantes que vão entrar na discussão política porque há eleições em 2009 e há um espaço que querem ocupar?
O espaço tem que ser ocupado por mérito. A forma como vejo a política é muito diferente daquela de outras pessoas no passado. Qualquer que seja o militante de base da JSD, desde que seja o mais bem preparado para assumir funções, quer numa Junta quer numa vereação, será aquela que será indicada por nós. Não vamos estar preocupados em escolher o fulaninho A ou B, mas preocupados em escolher o melhor porque a imagem da JSD passa pelo desempenho dessa pessoa nos quatro anos seguintes. Se tivermos um vereador ou um membro da assembleia que não intervenha e não tenha uma política para a cidade, não vale a pena indicá-lo. Prefiro não indicar ninguém do que indicar alguém mau.
O que tem Rui Rio para ser o candidato natural dos sociais-democratas? A figura dele é incontestável?
Para mim e para a minha equipa é, fizemos questão de tornar isso público quando nos candidatamos. Rui Rio é uma personalidade que tem estado a fazer um trabalho de intervenção social na cidade muito importante e tem credibilidade, aceitação e uma política para a cidade que deve ser continuada. Se ele entender ser candidato, a JSD está aqui para o apoiar. Não há ninguém neste momento que consiga assumir a câmara da forma e com a seriedade que ele o faz.
Faz algum reparo ao trabalho de Rio?
À política não, mais à falta de verbas disponíveis para fazer mais. Se me perguntar se há política cultural na cidade que chegue, eu digo-lhe que não; se me perguntar se as políticas desportivas na cidade chegam, também lhe digo que não. Agora é tudo uma questão de prioridades, e a deste executivo camarário é a coesão social, a reabilitação dos bairros e o dinheiro não chega para tudo.
Houve alguma altura em que tivesse pensado: se fosse líder da JSD marcava uma reunião com Rio para lhe dizer “não vás por aí”?
(Risos) O nosso papel é de aconselhamento e era isso que eu teria feito. A reabilitação da Baixa é um dos pontos fundamentais em que podemos vir a actuar e a tomar algumas posições. Um jovem não consegue comprar uma casa na Baixa porque elas são extremamente caras e não há estacionamento. É importante que não se dê azo à especulação imobiliária. O que foi feito até agora (isentar os jovens de taxas camarárias quando adquirem um edifício na Baixa e o querem remodelar), ainda não é suficiente. É preciso haver por parte do Executivo alguma coisa de diferente que leve os jovens a comprar uma casa na Baixa, em vez de o fazer na Maia ou em Valongo.
O núcleo de Paranhos apoiou Marques Mendes nas directas, contra Luís Filipe Menezes. Como é a vossa relação com o líder nacional?
Não estou na política por carreirismo ou seguidismo. Em eleições há um que ganha e um que perde. Estaremos em 2009 nas legislativas ao lado do Dr. Menezes e sempre que ele quiser vir ao Porto. A JSD Porto não está refém de ninguém, tem ideias próprias e nunca deixará de criticar um ou outro aspecto se assim entendermos.
Como avalia o trabalho dele enquanto líder da oposição?
Sinceramente estava à espera de um bocadinho mais, mas não tem sido mau. Está na altura de ele conseguir dar o salto e mostrar realmente que é uma alternativa. Quando chegarmos a 2009 e tivermos novamente José Sócrates, [Menezes] tem que estar com um capital que lhe permita vencer e isso só consegue se fizer o trabalho de casa e, ao longo destes meses que faltam para as eleições, tiver uma exposição pública, defender bandeiras e novos caminhos para um Portugal diferente.
Menezes já tem esse capital político?
Ainda não o tem e isso prova-se nas sondagens, ainda não houve o descolamento necessário. Toda a gente criticava o Marques Mendes por isso e este também ainda não o conseguiu. Mas ainda falta mais de um ano para as eleições e vai a tempo de o conseguir. Tem que estar preocupado em apontar novas medidas, caminhos e mostrar às pessoas que pode haver um rumo diferente para levar o marasmo de Portugal.
In "O Primeiro de Janeiro", 17 de Fevereiro 2008

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